Maneva faz péssimo negócio ao profanar o reggae para pôr sertanejo, samba e piseiro na cadência jamaicana

0
38

Banda paulistana investe em som genérico ao lançar o álbum ‘Tudo vira reggae ao vivo’, terceiro título de projeto populista criado em 2020. Maneva traz convidados como Felipe Araújo, Gabriel O Pensador e Juliette no álbum ‘Tudo vira reggae ao vivo’, lançado na sexta-feira, 29 de setembro
Divulgação
♪ OPINIÃO – Como o ritmo comanda a música, tudo pode virar samba, forró, reggae ou qualquer outro estilo. Mal nenhum há quando um cantor ou grupo eventualmente traz uma composição de um gênero musical para outro.
Contudo, se isso vira fórmula mercantilista para diluir músicas e atrair público interessado mais em diversão do que em arte, algo parece fora da ordem. É o caso da banda paulistana Maneva, que lançou na sexta-feira, 29 de setembro, o álbum Tudo vira reggae ao vivo, terceiro título do projeto Tudo vira reggae.
Em nome do populismo, Tales de Polli (voz e violão), Felipe Sousa (guitarra), Fernando Gato (baixo), Diego Andrade (percussão) e Fabinho Araújo (bateria) profanam a ideologia do reggae – gênero musical nascido nas periferias da Jamaica no fim da década de 1960, derivado do ska e do rocksteady – até porque o principal embaixador mundial do gênero, Bob Marley (1945 – 1981), deu caráter social e político ao reggae ao logo dos anos 1970.
No Brasil, o gênero começou a aparecer timidamente nos anos 1970 e, com o tempo, ganhou sotaque cada vez mais pop. Uma das principais bandas de reggae do país, a fluminense Cidade Negra surgiu no fim da década de 1980 com som engajado, idealizado pelo cantor e compositor Rás Bernardo.
Contudo, a partir do terceiro álbum, Sobre todas as forças (1994), a gravadora Sony Music direcionou o som do grupo para linha mais pop, o que gerou a saída do politizado Rás Bernardo, substituído por Toni Garrido. Comercialmente, a mudança surtiu grande efeito.
A banda Maneva entrou em cena em 2005 já com reggae de cepa pop. Mas nada fazia supor essa guinada mercantilista com o projeto Tudo vira reggae, nascido em 2020.
No início, o projeto se justificou pelo fato de o mundo vivenciar o isolamento social imposto pela pandemia de covid-19. O álbum original Tudo vira reggae, lançado em julho de 2020, se originou da gravação de live feita pelo Maneva em 30 de maio daquele ano e transmistida ao vivo da Estância Alto da Serra (SP).
Na ocasião, a banda reapresentou hits de Alceu Valença, Chitãozinho & Xororó, Djavan, Hyldon, Raul Seixas (1945 – 1989) na cadência do reggae. Deu certo. Aí o quinteto apresentou um segundo volume em 2021, Tudo vira reggae II. A sequência já foi questionável, mas ainda se justificava pelo resistente contexto pandêmico.
Só que aí o mundo voltou ao normal e, diante do efeito menor surtido no ano passado pelo álbum de músicas inéditas, Mundo novo (2022), o Maneva voltou à seara dos covers e fez o registro audiovisual do show Tudo vira reggae em 8 de junho deste ano de 2023 em apresentação no Parque Villa-Lobos, na cidade de São Paulo (SP).
Além de rebobinar músicas dos dois volumes anteriores, com nomes como Felipe Araújo e Gabriel O Pensador, a banda adicionou ao repertório de Tudo vira reggae as músicas A queda (Gloria Groove, Ruxell, Pablo Bispo e Lukinhas, 2021), Baianidade nagô (Evandro Rodrigues, 1991), Catedral (Cathedral song, Tanita Tikaran, 1988, em versão em português de Christiaan Oyens, 1994), Codinome beija-flor (Cazuza, Ezequiel Neves e Reinaldo Arias, 1985), Essa tal liberdade (Chico Roque e Paulo Sérgio Valle, 1994), Graveto (Edu Moura, Matheus Di Pádua e Normani Pelegrini, 2020), Hoje eu quero sair só (Lenine, Caxa Aragão e Mu Chebabi, 1995), Meu pedaço de pecado (João Gomes, Daniel Mendes e Washington Jr., 2021), Pé na areia (Rodrigo Leite, Diogo Leite e Caíque, 2016) e Só os loucos sabem (Chorão e Thiago Castanho, 2009).
Ou seja, samba, piseiro, sertanejo, rap… Tudo vira reggae no toque da banda Maneva, às vezes com a adesão de convidados. Com Juliette, por exemplo, o Maneva fez Péssimo negócio (Bruno Caliman, 2018), hit de Dilsinho.
Como negócio, tudo indica que o álbum Tudo vira reggae ao vivo seja bom. Já do ponto de vista da condução da discografia, é péssimo negócio para o Maneva insistir nessa onda populista que dá na praia do reggae genérico.
Capa do álbum ‘Tudo vira reggae ao vivo’, da banda Maneva
Divulgação

Fonte: G1 Entretenimento