Eliete Negreiros declara amor à música do Brasil em coletânea de ensaios sobre ícones nacionais

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Cantora e escritora combina análise, informação e afeto em livro que reúne textos sobre nomes como Antonio Carlos Jobim, Arrigo Barnabé, Cartola, Luiz Melodia, Nara Leão e Paulinho da Viola. Capa do livro ‘Amor à música – de Cartola, Paulinho da Viola, Cortázar, Nara Leão, Rogério Sganzerla…’
Divulgação
Resenha de livro
Título: Amor à música – de Cartola, Paulinho da Viola, Cortázar, Nara Leão, Rogério Sganzerla…
Autor: Eliete Eça Negreiros
Edição: Edições Sesc
Cotação: ★ ★ ★ ★
♪ Amor à música é o título preciso do terceiro livro de Eliete Negreiros, escritora formada em filosofia pela Universidade de São Paulo que ouvintes da música brasileira talvez conheçam mais como cantora.
Associada à Vanguarda Paulista, movimento musical deflagrado na década de 1980 por nomes como Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção (1949 – 2003), a artista tem na discografia álbuns como Outro sons (1982), Eliete Negreiros (1986), Eliete Negreiros (1989) e Canção brasileira – A nossa bela alma (1992).
Lançado há 30 anos, este disco ao vivo é a senha para entender o amor da autora pela música do Brasil, mote de livro que compila 52 ensaios escritos por Eliete para as revistas Piauí e Caros amigos entre 2012 e 2014 – aliás, 51, já que o texto intitulado Nelson Cavaquinho, Montaigne… fez parte de outra coletânea de ensaios.
Esse amor vem de longe, precisamente da infância, quando Eliete foi iniciada na música brasileira pelo pai, Eleafar Eça Negreiros, que mostrou à filha o admirável mundo novo dos sambas e marchas de Assis Valente (1911 – 1958) e Noel Rosa (1910 – 1937) – e não por acaso esses dois compositores aparecem no repertório do álbum Canção brasileira.
O amor é a palavra-chave desse terceiro livro de Eliete Negreiros – autora de Ensaiando a canção – Paulinho da Viola e outros escritos (2011) e Paulinho da Viola e o elogio do amor (2016) – porque o afeto pauta cada um dos textos de forma mais ou menos explícita.
Ao discorrer sobre as obras de bambas e ídolos nacionais do porte de Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994), Baden Powell (1937 – 2000), Candeia (1935 – 1978), Cartola (1908 – 1980), Luiz Melodia (1951 – 2017) e Pixinguinha (1897 – 1973), entre outros nomes relevantes, a autora declara amor a esses ícones da música brasileira sem jamais resvalar na pieguice ou no sentimentalismo em nome da alma brasileira.
A escrita fina e elegante da autora depura os textos e impede que soem como wikipedia quando eles encadeiam informações biográficas sobre o artista enfocado. O livro Amor à música traz (muita) informação confiável, mas o que diferencia é justamente o poder analítico da autora, aliado ao tom pessoa dos textos.
É notável a forma como, no primeiro dos dois textos dedicados a Arrigo Barnabé, Eliete Negreiros resume a revolução estética deflagrada em São Paulo pelo artista paranaense a partir do álbum Clara Crocodilo (1980).
A coletânea traz um ou outro texto de caráter essencialmente didático, caso de Paulinho da Viola e o choro, que servirão como introdução sucinta para leitores que queiram entender os caminhos da música brasileira.
Contudo, é quando a autora se revela, sem nunca diluir o tom analítico e/ou informativo do ensaio, que o livro cresce aos olhos do leitor. Um pouco da alma de Eliete Eça Negreiros salta das páginas quando, por exemplo, a ensaísta conta que teve que parar o fusca branco que dirigia quando foi atingida em cheio pela audição de Pérola negra, a canção de Luiz Melodia apresentada ao Brasil na voz de Gal Costa em 1971.
Enfim, o livro Amor à música destila o que promete o título, combinando análise, informação e afeto. Mesmo que os textos sejam antigos, todos resistem muito bem ao tempo e fazem com que a coletânea amplifique, no Brasil embrutecido de 2022, a delicadeza entranhada e e resistente nas almas mais sensíveis do país.
Eliete Negreiros reúne 52 ensaios no terceiro livro, ‘Amor à música’
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Fonte: G1 Entretenimento